segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MANIFESTO - DIA DOS PROFESSORES (versão reduzida para os jornais)

O que é preciso para melhorar a qualidade do ensino?

Que a lei seja cumprida!

Grupo de Sábado – FE/Unicamp

www.grupodesabado.webnode.com - Outubro/2010

Nós, de um grupo colaborativo que reúne professores que ensinam Matemática, estudantes de Licenciatura e de Pedagogia, além de dois professores efetivos Departamento de Ensino e Práticas Culturais da FE/Unicamp – viemos a público manifestar nossa indignação e expressar o descontentamento com a (des)valorização da profissão docente e com as atuais políticas públicas de educação, especialmente do Estado de São Paulo.

Expressamos aqui nossas indignações e reivindicações, principalmente em relação a nossa formação continuada e a forma como esta tem sido tratada pelas políticas públicas estaduais.

Consideramos que a escola tem mudado, mas observamos que as políticas públicas não acompanham efetivamente as transformações pelas quais passa nossa sociedade, e responsabilizam os professores pela crise da educação em nosso país. Por isso, alguns planos de carreira são atrelados ao desempenho de nossos alunos em avaliações controladas pelos governos das diferentes esferas: municipal, estadual e federal. Também somos avaliados em provas com critérios, muitas vezes dissociados de nosso contexto prático. Será que a seleção cuidadosa que realizamos de diferentes atividades para serem desenvolvidas em nossas aulas são menos importantes que as perguntas conteudistas e fechadas presentes nessas provas meriotocráticas de múltipla escolha?

Segundo pesquisa da Fundação Vitor Civita em parceria com a Fundação Carlos Chagas(FCC), a carreira docente atrai cada vez menos os jovens que se formam no Ensino Médio e ingressam no Ensino Superior. Nos últimos anos, tem sido divulgada a queda na demanda pelas licenciaturas e no número de formandos. Apenas 2% dos jovens que cursam o 3º ano do Ensino Médio pretendem alguma Licenciatura.

Esta situação precisa ser combatida com várias ações e uma delas é o aumento de salário, tendo em vista que os professores atualmente ganham 40% menos que outros profissionais com a mesma qualificação, conforme aponta o artigo publicado no site da ANDIFES.

Porém, aumento de salário não é suficiente para garantir melhoria da qualidade de ensino e nem para reverter a falta de atratividade da carreira. Defendemos a necessidade de se reconhecer que a formação contínua é um direito do professor e deve ser considerada como parte inerente de sua profissão, pois esta exige uma reflexão constante sobre a própria prática. É essencialmente a profissão de quem ensina e aprende continuamente. A formação (des)continuada atualmente oferecida aos docentes é realizada de tempos em tempos, mediante cursos esporádicos, onde o professor é visto como um profissional que não correspondeu às expectativas do Estado dentro de sua sala de aula e por este motivo, necessita de um “reforço”.

Segundo FIORENTINI (2005), estudos e experiências tem mostrado que estes cursos sob o modelo da racionalidade técnica (ZEICHNER e SHÖN) são pouco eficazes na mudança dos saberes, das concepções e da prática docente nas escolas. A principal razão é que esses cursos promovem uma prática de formação descontínua:

descontínua em relação à formação inicial dos professores; descontínua em relação ao saber experiencial dos professores, os quais não eram tomados como ponto de partida da formação continuada; descontínua, ainda, em relação aos reais problemas e desafios da prática escolar; e descontínua, sobretudo, porque eram ações pontuais e temporárias, tendo data marcada para começar e terminar (p. 8)

Este profissional que já era desvalorizado socialmente sente-se cada vez mais desmotivado e realiza esses cursos em horário oposto ao de sua jornada de trabalho o que não oferecerá o suficiente para o aprimoramento de sua prática. Parece que esse sistema não tem sustentação para a atual situação com a qual nós nos deparamos, não provocando mudanças na qualidade da Educação. O que propor então? Propomos apenas que a lei seja cumprida, nada mais!

Tendo em vista a necessidade de assegurar um piso salarial a toda a categoria e valorizar o magistério, promovendo assim uma melhoria na qualidade da educação, em julho de 2008 foi aprovada no Brasil a Lei nº 11.738, conhecida como Lei Cristovam Buarque. Em seu § 4º do artigo 2º, a Lei Cristovam Buarque trata da composição da jornada de trabalho do professor. Neste artigo fica garantido que a jornada de trabalho do professor será composta de 66,6% de trabalho com alunos, ficando o restante de horas reservado para outras atividades que poderão realmente promover uma formação contínua do professor.

Não estamos nos negando a estudar, a participar de cursos de formação, mas almejamos uma formação contínua, que nos ajude a alcançar os níveis de qualidade exigidos pela atual sociedade e queremos condições dignas para isso, ou seja, queremos que essa formação contínua faça parte da nossa jornada de trabalho, se tornando parte do processo de formação educativa constante do professor, sem interrupções.

Uma possibilidade é a criação de grupos colaborativos que embasam sua filosofia numa perspectiva de estudos em colaboração com os seus pares. Nos grupos, os estudos são diretamente voltados para as práticas em sala de aula permitindo não apenas a relação entre teoria e prática, mas também os momentos para a reflexão dessas relações.

Acreditamos, por nossa própria experiência, na parceria entre professores escolares, futuros professores e acadêmicos em comunidades colaborativas, reflexivas e investigativas. O caráter diversificado dessas comunidades tem um papel importante à medida que torna possível a ressignificação das experiências de maneira crítica e criativa, valorizando o conhecimento do estudante, dos acadêmicos, mas também o conhecimento e os saberes docentes dos professores que atuam em sala de aula.

Um exemplo desses grupos colaborativos, e que tem apresentado ótimos resultados é o próprio GdS. Sua forma de trabalho tem ajudado muitos professores a desenvolverem-se profissionalmente, incentivando a produção escrita por meio de quatro livros já publicados, a organização de três seminários bienais e a participação de seus integrantes em outros congressos e encontros, não apenas como ouvintes, mas como convidados em mesas redondas, apresentando trabalhos e oferecendo oficinas.

Essa história nos traz a convicção de que é possível implementar, nas diversas secretarias de educação, projetos de formação continua em forma de grupos colaborativos, cujos programas de estudo e pesquisa sejam organizados e coordenados por professores, tendo como apoio as Diretorias de Ensino e parceria das IES que oferecem regularmente cursos de formação de professores.

Nesse sentido, solicitamos que as Secretarias de Educação não apenas permitam que o professor possa optar por essa modalidade de formação contínua como também a reconheça, apóie e subsidie com recursos públicos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MANIFESTO - DIA DOS PROFESSORES

O que é preciso para melhorar a qualidade do ensino?

Que a lei seja cumprida!

Nós, professores do Grupo de Sábado (GdS) – um grupo colaborativo de formação que reúne professores que ensinam Matemática, estudantes de Licenciatura e de Pedagogia, além de dois professores efetivos da Faculdade de Educação da Unicamp, do Departamento de Ensino e Práticas Culturais – viemos a público manifestar nossa indignação e expressar o descontentamento dos professores com a (des)valorização da profissão docente e com as atuais políticas públicas de educação, especialmente do Estado de São Paulo, e apontar as principais reivindicações do grupo e dos mais de 410 professores que ensinam Matemática que estiveram presentes ao último evento organizado pelo grupo, em Julho de 2010 (III SHIAM - Seminário de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática).

Iniciamos trazendo algumas vozes desses professores:

A mesa de abertura do III SHIAM destacou problemas que nós professores estamos vivenciando e aceitando, ainda que a contra gosto, sem reivindicar. [...] Sinto que a mídia abafa nossa voz e transmite para a sociedade falsas verdades[...] (D. L.)

Divulgar nas escolas que existe a possibilidade do professor ser ouvido e reconhecido também como produtor de conhecimento (e este como parte de sua formação). Essa possibilidade é a participação e formação de grupos de estudo colaborativo. (A. B.)

Decidimos escrever um texto que abordasse nossas indignações e reivindicações, principalmente em relação a nossa formação continuada e a forma como esta tem sido tratada pelas políticas públicas estaduais, que preferem utilizar como critério a meritocracia injusta, cujos resultados tem sido desastrosos, em vez de uma valorização real do professor.

Embora esta também seja uma questão que precisa ser discutida, não temos a intenção, neste manifesto, de pedir aumento de salário, o que obviamente é necessário, tendo em vista que os professores atualmente ganham 40% menos que outros profissionais com a mesma qualificação, conforme aponta o artigo publicado no site da ANDIFES:

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, enquanto a renda mensal média na ocupação principal dos trabalhadores com nível superior completo era de aproximadamente R$ 3 mil, a renda média dos professores que têm formação superior e atuam nas redes estaduais ou municipais de educação básica (nas quais está a grande maioria dos estudantes e professores) variava na faixa de R$ 1 mil a R$ 1.600, dependendo do vínculo administrativo (municipal ou estadual) e do nível em que ensinam. Esses valores estão mais próximos da renda dos trabalhadores com ensino médio, cerca de R$ 1 mil mensais. Tal diferença salarial entre professores com formação superior e os demais trabalhadores também com mesmo nível educacional existe, com raríssimas exceções, em todos os municípios e Estados, inclusive no Estado de São Paulo.

Consideramos que a escola tem mudado, mas observamos que as políticas públicas não acompanham efetivamente as transformações pelas quais passa nossa sociedade, e responsabilizam os professores pela crise da educação em nosso país. Por isso, alguns planos de carreira são atrelados ao desempenho de nossos alunos em avaliações controladas pelos governos das diferentes esferas: municipal, estadual e federal. Também somos avaliados em provas com critérios muitas vezes dissociados de nosso contexto prático. Será que a seleção cuidadosa que realizamos de diferentes atividades para serem desenvolvidas em nossas aulas são menos importantes que as perguntas conteudistas e fechadas presentes nessas provas meriotocráticas de múltipla escolha?

Qual o discurso mais difundido na atualidade a respeito do ensino de matemática no Brasil? E no Estado de São Paulo? Em sua maioria, são discursos que reforçam a formação deficitária dos professores de matemática, ou ainda, a falência do sistema educacional brasileiro.

Segundo pesquisa da Fundação Vitor Civita em parceria com a Fundação Carlos Chagas(FCC), a carreira docente atrai cada vez menos os jovens que se formam no Ensino Médio e ingressam no Ensino Superior. Nos últimos anos, tem sido divulgada a queda na demanda pelas licenciaturas e no número de formandos. Apenas 2% dos jovens que cursam o 3º ano do Ensino Médio pretendem alguma licenciatura.

Esta situação precisa ser combatida com várias ações e uma delas é o aumento de salário. Mas, esta ação não basta para reverter a falta de atratividade da carreira de professor. Defendemos a necessidade de se reconhecer que a formação contínua é um direito do professor e deve ser considerada como parte inerente de sua profissão.

A educação pública, especialmente do Estado de São Paulo onde atuamos, necessita ser repensada a fim de garantir a qualidade do ensino oferecido aos nossos alunos, por este motivo, sabemos da importância de uma formação não apenas continuada mas sim, continua, no sentido de uma formação ininterrupta, ao contrário daquela que tem sido oferecida aos professores, em cursos temporários e sem continuidade. Outro complicador é que estes cursos geralmente são ministrados sem relação direta com a prática do professor.

Ser professor é envolver-se com uma profissão técnica, científica e cultural, optar por uma profissão que exige uma reflexão constante sobre a própria prática. É essencialmente a profissão de quem ensina e aprende continuamente. Nesse sentido, a atualização docente não pode ser realizada de tempos em tempos, mediante cursos oferecidos esporadicamente.

Tendo em vista a necessidade de assegurar um piso salarial a toda a categoria e valorizar o magistério, promovendo assim uma melhoria na qualidade da educação, em julho de 2008 foi aprovada no Brasil a Lei nº 11.738, conhecida como Lei Cristovam Buarque. Em seu § 4º do artigo 2º, a Lei Cristovam Buarque trata da composição da jornada de trabalho do professor. Neste artigo fica garantido que a jornada de trabalho do professor será composta de 66,6% de trabalho com alunos, ficando o restante de horas reservado para outras atividades que poderão realmente promover uma formação contínua do professor.

Em vez de cumprir a lei, oferecendo aos seus professores uma jornada de trabalho que permita seu desenvolvimento profissional, a solução encontrada pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (Seesp) tem sido a oferta de cursos de especialização, aprimoramento ou extensão.

Estes cursos não tomam como referência os desafios postos ao professor de matemática na escola atual, não acompanham de perto a implementação de alternativas metodológicas e o desenvolvimento curricular nas unidades escolares. Ao contrário, reforçam um único aspecto da formação, propondo-se a “ensinar mais matemática aos professores”.

O professor inserido neste programa, é visto como um profissional que não correspondeu às expectativas do Estado dentro de sua sala de aula e por este motivo, necessita de um “reforço”. Este profissional que já era desvalorizado socialmente sente-se cada vez mais desmotivado e realiza esses cursos em horário oposto ao de sua jornada de trabalho o que não oferecerá o suficiente para o aprimoramento de sua prática, pois este modelo de formação, denominada como formação continuada, em algum momento se interrompe.

Sabendo da estressante jornada de trabalho dos professores, que chegam a assumir dois cargos no estado para garantir um salário razoável, como ele poderá ter tempo de estudar, se aprimorar e refletir sobre a prática em alguns meses?

Quais são as conseqüências dessa formação ao professor e qual a repercussão disso em suas aulas? Elas se tornam mais interessantes, motivadoras e ricas em conteúdos CORRETOS de matemática? Parece que esse sistema não tem sustentação para a atual situação com a qual nós nos deparamos, não provocando mudanças na qualidade da Educação.

O que propor então?

Propomos apenas que a lei seja cumprida, nada mais!

Se existe uma lei que nos garante o direito de utilizarmos 1/3 de nossa jornada de trabalho para estudo, por que não indagar os motivos pelos quais essa lei não é cumprida em nosso Estado?

Não estamos nos negando a estudar, a participar de cursos de formação, mas almejamos uma formação contínua, que nos ajude a alcançar os níveis de qualidade exigidos pela atual sociedade e queremos condições dignas para isso, ou seja, queremos que essa formação contínua faça parte da nossa jornada de trabalho, se tornando parte do processo de formação educativa constante do professor, sem interrupções.

Uma possibilidade é a criação de grupos colaborativos que embasam sua filosofia numa perspectiva de estudos em colaboração com os seus pares. Nos grupos, os estudos são diretamente voltados para as práticas em sala de aula permitindo não apenas a relação entre teoria e prática, mas também os momentos para a reflexão dessas relações.

Acreditamos, por nossa própria experiência, na parceria entre professores escolares, futuros professores e acadêmicos em comunidades colaborativas, reflexivas e investigativas. O caráter diversificado dessas comunidades tem um papel importante à medida que torna possível a ressignificação das experiências de maneira crítica e criativa, valorizando o conhecimento do estudante, dos acadêmicos, mas também o conhecimento e os saberes docentes dos professores que atuam em sala de aula. Assim, poderemos constituir uma postura investigativa necessária ao mundo contemporâneo que muda a cada instante, e os acadêmicos poderão cumprir seu papel de disseminadores do conhecimento obtido em pesquisas, ao mesmo tempo em que poderão associar estas pesquisas com a realidade da sala de aula.

Um exemplo desses grupos colaborativos, e que tem apresentado ótimos resultados é o próprio GdS, com seu modelo organizacional: um grupo de professores que ensinam matemática (na Educação Básica e no Ensino superior) que se reúne para discutir a prática de sala de aula. Esta forma de trabalho tem ajudado muitos professores a desenvolverem-se profissionalmente, incentivando a produção escrita por meio de quatro livros já publicados, a organização de seminários bienais (Seminário de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemáticas I, II e III), realizados em 2006, 2008 e 2010 e a participação de seus integrantes em outros congressos e encontros, não apenas como ouvintes, mas como convidados em mesas redondas, apresentando trabalhos e oferecendo oficinas. Esta participação demonstra o prestígio profissional destes professores, seu reconhecimento acadêmico e sua importância para o desenvolvimento da Educação Matemática como campo de prática profissional e de produção de conhecimento.

O Grupo de Sábado, ao longo de seus 11 anos de existência, tem promovido diretamente o desenvolvimento profissional de mais de uma centena de professores ou futuros professores que dele participaram por um período de pelo menos um semestre. Várias pesquisas – dentre elas duas teses de doutorado – têm mostrado que os professores que participaram das reuniões de estudo e pesquisa do GdS, tendo como objeto de análise a prática de ensinar e aprender matemática em diferentes níveis de ensino e realidades escolares, mudaram radicalmente sua prática e ajudaram a promover melhoria da qualidade do ensino de sua escola. Vários outros grupos semelhantes surgiram no estado de São Paulo e no Brasil, sendo igualmente contributivos à formação contínua de seus participantes.

Essa história nos traz a convicção de que é possível implementar, nas diversas secretarias de educação, projetos de formação continua em forma de grupos colaborativos, cujos programas de estudo e pesquisa sejam organizados e coordenados por professores, tendo como apoio as Diretorias de Ensino e parceria as IES que oferecem regularmente cursos de formação de professores. Essa alternativa de desenvolvimento profissional e cultural dos professores tem-se mostrado - como evidenciam as pesquisas realizadas pelos grupos de pesquisa Prapem (Prática Pedagógica em Matemática) e GEPFPM (Grupo de Estudo, Pesquisa e Formação de Professores de Matemática) da Unicamp - mais efetivas que os tradicionais cursos de formação continuada de professores. Nesse sentido, solicitamos que as Secretarias de Educação não apenas permitam que o professor possa optar por essa modalidade de formação continuada como também a reconheça, apóie e subsidie com recursos públicos.

Grupo de Sábado – FE/Unicamp

www.grupodesabado.blogspot.com

Outubro/2010